Os juros futuros encerraram a sexta-feira (17) em alta ao longo de toda a extensão da curva, impulsionados pelo movimento dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano (Treasuries) no exterior e pelas declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. As falas de Campos Neto foram interpretadas pelo mercado como duras, elevando a pressão sobre as taxas de juros.
No fechamento da sessão, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 subiu de 10,35% para 10,375%. O DI para janeiro de 2026 avançou de 10,56% para 10,67%, enquanto o DI para janeiro de 2027 saltou de 10,89% para 11,02%. Já o DI para janeiro de 2029 passou de 11,375% para 11,50%.
Desde o início do dia, as taxas de juros estavam sob pressão, refletindo o movimento de alta nas curvas globais. As declarações de Campos Neto, dadas em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, intensificaram esse movimento. Campos Neto afirmou que não pode adiantar novos cortes na Selic e destacou a necessidade de "tempo, serenidade e calma" para avaliar as variáveis econômicas e conduzir a política monetária no futuro.
"A entrevista não teve o mesmo tom conciliatório observado na comunicação de ontem. Esses dois ingredientes foram mais do que suficientes para azedar as coisas no mercado de taxas locais. Durante toda a sessão, os rendimentos locais se ampliaram com a curva ganhando inclinação. As taxas reais tiveram movimento bastante forte ao longo do dia, o que levou a outro movimento acentuado de alta nas expectativas de inflação", afirmou um trader de um banco local.
Os estrategistas do Bank of America (BofA) observaram que o recente sell-off nas curvas de juros de países emergentes trouxe novamente valor para os ativos. "As altas taxas reais de juros devem acabar reduzindo a inflação, mas como os juros reais estão altos tanto nos EUA quanto nos mercados emergentes, isso torna os mercados de juros emergentes mais atrativos do que os mercados de moedas emergentes", disseram. Eles destacaram que, embora as taxas reais de emergentes pareçam altas, elas estão apenas perto das médias quando normalizadas pelas taxas de juros dos EUA e pela volatilidade.
O Deutsche Bank iniciou uma posição no achatamento da curva no Brasil, apostando na alta do DI para janeiro de 2025 e na queda do juro para janeiro de 2026. "Políticas equivocadas são mais perturbadoras no Brasil, dada a vulnerabilidade fiscal, mas acreditamos que os choques de políticas seriam limitados a 2024 contra 2025", afirmou o banco.
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Os agentes de mercado continuam a avaliar o impacto das declarações de Campos Neto e a percepção de risco local, especialmente após a demissão do presidente da Petrobras e a possível intervenção do governo na gestão da estatal. Esse cenário tem mantido os prêmios de risco na curva de juros em níveis elevados, refletindo a incerteza e a volatilidade do ambiente econômico.