O dólar comercial fechou em queda de mais de 1% pela segunda sessão consecutiva nesta quinta-feira (4), continuando a devolver a forte valorização recente e encerrando o dia abaixo de R$ 5,50 pela primeira vez desde 25 de junho. Com isso, a moeda americana acumulou uma queda de 3,15% em apenas dois pregões. Este movimento foi impulsionado pelo anúncio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que o governo está comprometido com as metas do arcabouço fiscal e identificou R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que poderão ser cortadas do orçamento do próximo ano.
O dólar à vista fechou em queda de 1,46%, cotado a R$ 5,4869, após atingir a mínima intradiária de R$ 5,4663 e a máxima de R$ 5,5073. O real liderou novamente o desempenho entre as 33 moedas mais líquidas acompanhadas pelo Valor em relação ao dólar. O euro comercial também recuou 1,20%, fechando a R$ 5,9329, abaixo de R$ 6 pela primeira vez nesta semana.
A sessão foi marcada por um menor volume de negócios devido ao feriado de Independência nos Estados Unidos, que manteve os mercados fechados. Nesse ambiente, o índice DXY, que mede o dólar ante seis pares globais, operava em queda de 0,26%, a 105,132 pontos, perto do horário de fechamento. Em relação às moedas emergentes, o dólar caía 0,51% frente ao peso mexicano, 0,46% frente ao peso chileno e 0,25% frente ao peso colombiano.
Com Nova York fora dos negócios, o único direcionador para o câmbio nesta quinta-feira foi a pauta fiscal. Após um período de grande estresse devido à desconfiança dos agentes em relação ao governo e à aparente perda de autonomia da equipe econômica de Fernando Haddad, o ministro demonstrou força ao afirmar que o presidente Lula está comprometido a cumprir os objetivos do arcabouço fiscal “a todo custo” e ao anunciar R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que poderão ser cortadas do orçamento de 2025.
De acordo com informações do Valor, a ala econômica do governo acredita que o montante citado por Haddad será suficiente para equilibrar as despesas do próximo ano, mas outras medidas serão necessárias para 2026. De qualquer forma, as sinalizações foram bem recebidas, já que o valor superou um contingenciamento mais tímido, conforme relatos anteriores, de aproximadamente R$ 10 bilhões.
Para Cleber Alessie Machado, gerente da mesa de derivativos da Commcor, a correção do real estava dentro do esperado, dado o grau acentuado da depreciação recente. "A maior parte do mercado entendeu o nível de R$ 5,70 como exagerado, e agora parece que devolveu esse excesso porque o governo sinalizou uma predisposição de cortar os gastos," diz ele.
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“A sinalização de ontem ajudou o mercado a respirar um pouco. A alta do dólar estava sem goleiro”. No entanto, Machado pondera que a sessão de amanhã, com o retorno dos negócios em Nova York, deve definir melhor qual será o nível do dólar que o mercado vai buscar diante de um cenário doméstico menos estressado. Ele acredita que a dinâmica do câmbio deve continuar refém dos desenvolvimentos da economia americana e das expectativas por cortes de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Mais adiante, as eleições americanas devem dominar as atenções dos investidores.
Para os estrategistas do banco espanhol BBVA, uma comunicação consistente do governo e, principalmente, ações apropriadas em direção a uma política fiscal mais austera determinarão se a recuperação do real terá continuidade. “Já houve alguns falsos começos para a recuperação do real, e ainda precisa ser confirmado com uma sequência positiva se isso (a melhora recente) é só um alívio temporário ou o início de um movimento sustentado,” avaliam os profissionais em relatório.